A consagração do Botafogo em Buenos Aires pode ser analisada sob diversos prismas que o futebol permite: a excelência técnica dos jogadores, o duelo tático marcado por uma expulsão logo no minuto inicial, os gols decisivos ou mesmo pelos personagens icônicos que escreveram essa história. No entanto, o que se viveu ali transcendeu o esporte — foi, acima de tudo, uma narrativa humana que precisa ser contada sob a perspectiva do torcedor alvinegro.
Não duvidem do improvável
No futebol, como na vida, certas conquistas só podem ser plenamente compreendidas quando se entende a extensão das feridas e das adversidades enfrentadas no caminho. No caso do Botafogo, esses elementos estavam todos presentes: a longa espera, o peso das memórias recentes de um clube que parecia sem esperança, e a decepção mais cruel justamente quando o torcedor se permitia sonhar novamente.
Naturalmente, jogadores e comissão técnica do Botafogo de 2024 evitaram comparações com o ano anterior. Afinal, o elenco foi quase que inteiramente renovado. Mas enquanto os atletas vão e vêm, o torcedor permanece. E não havia torcida mais marcada pela dor do que a do Botafogo. Para entender os abraços emocionados, as pessoas ajoelhadas e o éxtase ao apito final no Monumental de Nuñez, é imprescindível lembrar 2023, quando o sonho foi brutalmente destruído. Assim, o gol de Júnior Santos, no último minuto dos acréscimos, não apenas decretou o 3 a 1 — ele selou uma redenção. O futebol, tão frequentemente cruel, enfim recompensava aquela torcida.
A jornada em Buenos Aires simbolizou, em certos momentos, um resumo do que o torcedor botafoguense vivenciou nos últimos dois anos. Dezenas de milhares viajaram à Argentina carregando esperanças renovadas, confiantes no time que jogou o melhor futebol do Brasil ao longo da temporada. Dominando as arquibancadas do Monumental, o entusiasmo era palpável. No entanto, menos de um minuto após o apito inicial, a expulsão de um jogador parecia prenunciar mais um capítulo de sofrimento. Mais uma vez, o futebol parecia disposto a testar os limites do Botafogo.
Buenos Aires conheceu o calor dos brasileiros
Foi nesse cenário que todas as expectativas se voltaram ao técnico Artur Jorge. Sem fazer substituições imediatas, ele reorganizou o time para lidar com a nova realidade. O Atlético-MG, dependente de jogadas laterais e cruzamentos, encontrou um Botafogo que se ajustou para proteger a área. Luiz Henrique auxiliava Vitinho para conter os avanços de Guilherme Arana, enquanto Marlon Freitas recuava para reforçar a marcação sem sobrecarregar Thiago Almada. Uma linha de até seis jogadores se formava para neutralizar os ataques adversários, enquanto o quarteto ofensivo permanecia alerta para explorar contra-ataques.
Mesmo com um homem a menos, o Botafogo não apenas resistia; criava oportunidades. Luiz Henrique abriu o placar ao aproveitar um rebote na área, e logo depois sofreu um pênalti convertido por Alex Telles. De forma surpreendente, a equipe confirmava sua superioridade técnica, mostrando que o favoritismo apontado antes da final tinha fundamento. Contudo, os torcedores permaneciam cautelosos, incapazes de celebrar plenamente antes do apito final.
Como definir a atuação do Glorioso?
A atuação do Botafogo não se define apenas por números ou estatísticas. Criticar o fato de a equipe ter sofrido um gol no segundo tempo e concedido algumas boas chances ao Atlético-MG seria injusto. Afinal, atravessar mais de 100 minutos de uma decisão com dez jogadores é algo quase inimaginável. Gabriel Milito, técnico do Atlético, buscou explorar fragilidades com substituições ofensivas, e o time mineiro diminuiu a diferença logo no início da segunda etapa.
Artur Jorge reagiu com alterações pontuais. Danilo reforçou o setor defensivo, ajudando na proteção da área. Mais tarde, Júnior Santos e Matheus Martins renovaram o fôlego nos contra-ataques. Vargas desperdiçou duas chances claras, mas o Botafogo resistiu.
Conforme o tempo passava, algo especial acontecia atrás do gol defendido por John, onde os torcedores alvinegros estavam. O temor de um novo revés coexistia com uma sensação crescente de que, desta vez, a história seria diferente. Quando Júnior Santos marcou o gol decisivo após um desvio de Alan Franco, não foi apenas mais um gol — foi o desfecho de uma esperança secular. Um clube e uma torcida, marcados por tantas cicatrizes, encontraram sua redenção.
O triunfo do Botafogo em Buenos Aires transcendeu uma simples vitória no futebol; celebrou um renascimento. Com o melhor futebol do país, uma performance convincente e a força de uma torcida que invadiu a capital argentina, o clube se libertou. O título não foi apenas merecido; tornou-se necessário.
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